domingo, 11 de janeiro de 2015

Muda, Muri e Mura - os desperdícios e as ineficiências na Saúde


O pensamento “lean” assenta numa classificação em três tipos diferentes de desperdícios e ineficiências na Saúde: muda (desperdício), muri (dificuldade ou sobrecarga) e mura (variabilidade e desequilíbrio).
a)  Muda: representa qualquer atividade num processo administrativo ou produtivo que não agrega valor ao cliente, ou seja, um desperdício. Existem dois tipos de muda: tarefas que não agregam valor e que são desnecessárias (devem ser eliminadas) e tarefas que não agregam valor mas que são necessárias (ou seja as que devem ser reduzidas). Apesar do muda ser o principal foco de muitos gestores, a ele se associam o muri e o mura que não podem ser menosprezados e que se relacionam entre si.


b)   Muri: segundo elemento desta lista designa a sobrecarga ou dificuldade. Sobrecarga física ou mental nas pessoas. Nas máquinas trata-se de querer que elas produzam mais do que são capazes.Muri são os desperdícios criados pela sobrecarga, uma sobrecarga que não é propriamente um aumento de peso. Quando a demanda excede a capacidade ou quando o rendimento exigido excede a capacidade de processamento. Este excesso de carga reduz o fluxo, aumenta a erros e compromete os resultados desejados. Quando se exige de um profissional de saúde que atenda mais doentes por hora ou que se execute mais procedimentos de enfermagem/clínicos médicos, isto terá um determinado impacto na forma como são realizados.

c) Mura: constitui as diferentes variações que são reconhecidas nos processos e que geram dificuldades de controlo. As variações nos processos de produção devem ser reduzidas para padrões toleráveis de forma a que haja maior previsibilidade nos resultados esperados. A existência de mura nos processos pode significar a ausência de uniformidade ou padronização dos mesmos. Ou seja, mura são irregularidades. Cada um executar as diversas ações de enfermagem ou procedimentos clínicos médicos da sua forma. O objetivos entre os diversos praticantes pode ser igual. Assim como o tipo de procedimento para o atingir. No entanto a forma como o procedimento é executado pode condicionar a forma como o objetivo é atingido. Por exemplo, perante um determinado diagnóstico clínico é necessário o doente realizar uma intervenção cirúrgica. O que se verifica na Saúde é que há variabilidade entre as respostas clínicas assim como entre as formas de realizar a cirurgia. O mesmo acontece nos procedimentos de enfermagem. Embora o pessoal de enfermagem procure prestar cuidados de saúde com uma determinada continuidade, os doentes referem, por vezes, que cada um realiza conforme o seu juízo crítico.
O mura já é controlado nas diversas unidades hospitalares através das normas e protocolos institucionais que são definidos e difundidos entre os serviços que constituem cada hospital, de forma a que os profissionais trabalhem de forma concertada e uniforme. 

O problema aqui reside em dois aspetos fundamentais:
- os profissionais defendem diferentes percursos académicos e, como tal, são orientados por diferentes teorias;
- tal como em outras organizações, existe resistência à mudança característica de estarmos a lidar com seres humanos mas também devido ao facto de cada um defender a sua teoria, a sua escola.
Daí que padronizar os procedimentos pode diminuir a sua variabilidade. Ao diminuir a sua variabilidade, teoricamente, controla-se melhor o resultado esperado. Ao escolher uma única forma de executar os procedimentos, consegue-se prever de certa forma, quais serão os resultados esperados e controlar, à partida, variáveis que deixam de ser desconhecidas.

Torna-se fundamental pensar estas três designações em conjunto. Quando um processo de produção possui irregularidades ou não obedece a um padrão (mura), previamente definido, observa-se a ocorrência de sobrecarga de equipamentos e pessoas (mura) e, por consequência, aparecerão atividades não agregadoras de valor, ou seja, desperdícios (muda). Desta forma, não adiante pensar cada um destes componentes de forma isolada. O sucesso de um programa de melhoria encontra-se em garantir estabilidade ao processo, a qual se obtém: reduzindo a sua variabilidade (que diminui o mura), garantindo um melhor controlo de variáveis estranhas e previsibilidade para evitar sobrecargas dos equipamentos ou pessoas no sistema (que diminui o muri), o que desta maneira aumenta a probabilidade de diminuir desperdícios (que se englobam no mura).

Na Saúde, os líderes acreditam que os doentes/clientes estão dispostos a pagar os cuidados (direta/indiretamente) e, por conseguinte, a qualidade inerente aos mesmos quando se deslocam a um hospital para serem diagnosticados, tratados e receberem alta, mas não estão dispostos a pagar mais do que isso (ou seja, os desperdícios considerados).

Nesta abordagem aos desperdícios que se produzem no sector e na procura de uma maior controlo sobre os mesmos, surgem três questões:

1) Como remover os desperdícios (muda) nos processos hospitalares para melhorar a eficiência e os resultados nos doentes/clientes? 


2) Como controlar as variáveis estranhas nos processos de produção para evitar sobrecargas (muri) de profissionais e equipamentos de saúde e garantir uma maior previsibilidade nos resultados esperados?
3) Como reduzir a variabilidade (mura) dos procedimentos no sector da saúde entre os diversos profissionais que nela trabalham?




Deixo estas questões para vossa reflexão e partilha de resposta, caso pretendam.